Pesquisar este blog

sábado, 27 de novembro de 2010

Um Herói de Verdade

Alguns fatos nos permitem grandes reflexões. É normal enquadrar a vida em uma rotina, conversar com um e outro, ir ao trabalho, à faculdade, fazer uma caminhada na rua, voltar para a casa. O dia seguindo, pessoas indo e vindo. Até que de repente, você está na sua casa, num dia como o de costume, e algo estranho acontece, e tudo parece desmoronar em uma fração de segundos.
            Aconteceu comigo!
            Era uma tarde, quase noite, de verão, chuvosa como muitas outras nesta época do ano. Sentada no computador recebo a doce visita de vovó, no auge de sua calma, dizendo da presença de um ser estranho na sala de jantar. Espantada, e já imaginando algo como: um sapo? uma bruxinha de luz? um passarinho? Antes fossem eu pensei, pois na verdade, encontrei para o meu desespero, uma robusta, preta, e “muuuuito” grande Pomba Rola, tranquilamente instalada na mesa de jantar, abrigando-se da chuva.
            Recordo-me da infância, ainda no interior (Rio Pomba, coincidência?!) do transtorno causado pela entrada indevida de animais na casa. Era um verdadeiro sufoco! Sapos, rãs e pererecas cobertas de sal, passarinhos se debatendo por toda a casa dando vôos rasantes sobre nossas cabeças, besouros “raqueteados”, morcegos “escaldados”, e grilos serrados ao meio por impiedosas vassouras. O caos reinava em momentos como esses.
            Com essas duras lembranças, ainda frescas na memória, corri com vovó para o corredor e lá nos entrincheiramos para arquitetar uma solução para o “caso pomba”. Uma verdadeira guerra de nervos. De um lado a pomba folgada se exercitando pela mesa, entre uma parada e outra para um cochilo, e do outro, eu acuada olhando pela fresta da porta, “secando” para que ela desconfiasse e seguisse seu rumo para longe da minha vida. Até compreendi que a chuva estada bem forte e que o abrigo era bom, mas, acuada dentro da própria casa era no mínimo um absurdo.
            Não queria nem imaginar aquele grande bicho (para os padrões de um apartamento) se debatendo pela casa num sofrimento sem fim. Piedade ainda me restava. Então optei por deitar um pouco, comecei a me questionar, como resolveria aquele problema? Por que não uma vassourada? Ah não, não seria capaz!
De dois em dois minutos lá estava eu na porta, entre eu e a sonolenta pomba, uns 3 metros e pouco de distância. Depois de tomar grande coragem, abri a porta e pedi que se retirasse de forma honrosa com a mesma delicadeza que entrou – ela não se moveu, me olhava fixamente. Foi então que bati com o meu caderno na parede – vá embora para que não haja derramamento de sangue! Ela teve a coragem de me ignorar. Resolvi me recompor, e partir para a estratégia da comidinha. Lancei um biscoito de polvilho (do estoque de suprimentos, pois sua presença na copa impedia chegada à cozinha) na direção da janela para que ela se posicionasse de forma propícia à partida. Errei a mira, o biscoito caiu no chão e ela respondeu com uma piscadinha, mais para agradecer o possível alimento, caso se dispusesse a deslocar-se até o chão – o que não aconteceu! Tomada pela ira, fui até o quarto, peguei o desodorante spray, disparei o forte jato em sua direção, e o mais surpreendente foi que ela virou-se, subiu na ponta da cadeira, e por lá ficou! Fechei a porta do corredor indignada, confesso que pensei na vassourada!
Fui para a internet, buscar ajuda, e o incrível foi que as pessoas ficavam rindo da minha situação, não entendiam o desespero. Sugeriam que eu abrisse a janela (por onde pensavam que ela tinha entrado?!), ou que ligasse para os bombeiros. Meu Deus!
Sozinha em casa, cuidando de uma doce senhorinha (ou estaria ela cuidando de mim?!) tomada pelo desejo incrível de bancar a “super vovó” e colocar a intrusa de vez para fora – estava eu com dois problemas, conter a vovó e espantar a persistente pomba rola.
Com quase 200 pessoas no MSN até acreditei que alguém me ajudaria, nem que fosse com um breve apoio moral. Mas não foi o que ocorreu. As horas foram passando, o suprimento de água se esgotando e o fato de me imaginar rastejando no chão, como um soldado mudando de posto na batalha, já atordoava. Chorei, chorei e chorei! Poxa, era um choro de desabafo, ninguém ia me ajudar?!
Somos tão fortes para algumas coisas, mas nossa humanidade não nos permite tudo, somos seres com fragilidades! Eu estava com medo, acuada, sozinha e com problemas filosóficos! Dureza!
Mas eu me enganei em um detalhe, não estava sozinha! Eu sou alguém de muita fé na vida, e a solução para o caso chegaria! E chegou! E veio na pele de um verdadeiro anjo, não esses loirinhos que andam por ai de vestido branco. O meu anjo é forte, lindo, atraente, educado, amável, gentil e tudo mais. Ele não é só um anjo, é um herói! Um herói real, que se dispõe a deixar sua cama, sua casa, ou uma distração com os amigos para vir até a minha casa me tirar do horror, pavor e todos “or” que imaginarem. Poucos são assim, poucos se importam em ajudar, a ouvir, a tentar entender. Poucos estão por mim, por nós!
E ele chegou, entrou, e com toda calma colocou a intrusa gentilmente para fora. Eu ainda com lágrimas nos olhos, não contive a emoção, corri para aqueles braços firmes e carinhosamente inesquecíveis.
Edgar... Tanto músculo e tanta doçura! Você é meu herói! Olhando para seus olhos dentro da minha casa, abraçada com você, quis parar o tempo, ficar com você para sempre... ser a mais amante das criaturas!!

O meu amor não tem limite... mas ele tem nome: EDGAR! O meu HERÓI!

À você todo o meu carinho e gratidão!


Adriana Furtado
Belo Horizonte, 27 de novembro de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário